sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os protestos dos Indignados, da Primavera Árabe, que remodelou o mapa político do Oriente Médio, e os acampamentos anti-Wall Street que se espalharam pelos Estados Unidos, inspiram uma série de "jogos sérios" que tentam atrair ativistas para um inofensivo monitor.

Um deles é o People Power, um game de estratégia que requer forte concentração de seus usuários para que liderem um movimento de resistência civil contra a polícia, o Exército ou inclusive os meios de comunicação oficiais.

O exercício, apresentado em seu site como "uma oportunidade para se unir à comunidade daqueles que querem aprender sobre resistência civil e estratégias não violentas", foi elaborado por York Zimmerman, uma produtora de documentários com sede em Washington.

O People Power não é uma proposta exatamente divertida, e sim exigente - os especialistas a classificam dentro da categoria "jogos sérios" -, nos quais o jogador escolhe uma cenário (ditadura, repressão...), seleciona uma série de táticas para combater seus adversários e distribui tarefas entre os membros de seu grupo.

Steve York, documentarista e produtor executivo do jogo criado em parceria com o Centro Internacional de Conflitos Não-Violentos, afirmou que não pretende apelar a uma audiência massiva, e "sim a ativistas comprometidos com conflitos pela liberdade e pelos direitos civis no mundo real, a quem um jogo simples ou fácil demais não ajudaria".

O People Power foi lançado há quase um ano como uma continuação de outro jogo lançado em 2006 (A Force More Powerful), que o grupo lançou quando "percebeu que era necessário ajudar os ativistas a aprender estratégias não-violentas".

Entre as estratégias estão arrecadar fundos, recrutar membros e formular táticas. Os militantes "sabiam fazer protestos, greves e boicotes, mas não sabiam como organizar tudo isso", explicou York, que trabalha em um documentário sobre a chamada Primavera Árabe, série de revoltas populares que provocou neste ano a queda de regimes ditatoriais no norte da África e no Oriente Médio.

Segundo disse à AFP o especialista e "game designer" Greg Costikyan, mesmo que People Power "apresente um modelo muito simples do que é uma realidade muito complicada", é interessante a forma como utiliza as relações sociais dos atores do conflito e as incorpora à mecânica do jogo.

Usar os jogos como uma ferramenta de treinamento ou uma forma interativa de criar estratégias não é algo novo. Por exemplo, o Pentágono tem sido muito ativo na criação de cenários virtuais para compreender estratégias de guerra ou atrair recrutas, enquanto os jogos sobre notícias ou "newsgames" datam de cerca de dez anos atrás.

Não é estranho então que a onda de protestos que sacodem o mundo real gere respostas no universo geek. Por exemplo, Occupy The Game (de ativistas de Phoenix, Arizona, criado no início de novembro) transforma em código binário a luta dos manifestantes anti-Wall Street: é preciso arrecadar dinheiro, água e mantimentos, se esquivar de gás lacrimogêneo e evitar ser preso.

A Rádio Nacional Pública americana (NPR) também desenvolveu um jogo muito simples que oferece um panorama do estado dos acampamentos anti-Wall Street no país, que - assim como os Indignados europeus- formam um movimento acéfalo e disperso contra as desigualdades sociais.

"Os games são outra das formas em que podem ser usadas as novas tecnologias para conceder poderes ao povo", disse à AFP Hanni Fakhoury, porta-voz da Electronic Frontier Foundation (EFF), que promove a liberdade de expressão na internet. "E, além disso, podem ajudar a arrecadar dinheiro", ressaltou.

Fakhoury cita o exemplo da organização www.humblebumble.com, que oferece jogos pelo preço que os usuários desejam pagar e entrega o dinheiro obtido à organização que o comprador decidir. Um sistema semelhante seria muito efetivo para o movimento "Ocupe Wall Street", sugeriu. "É claro que são meios úteis para conseguir que as pessoas se interessem por algo", acrescentou.

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