Estamos cada vez mais próximos de uma concretização de um futuro cyberpunk. O termo, criado há mais há quase três décadas, se refere a um futuro em que a sociedade evoluiu muito no que se trata de tecnologia, mas manteve o seu lado humano ou social se manteve estagnado. Logo, é como se em algum tempo todos nós respondêssemos por grandes corporações, desde nossos nascimentos, ao invés de seguirmos uma vida relativamente livre.
William Gibson explicou o conceito de um mundo assim no livro Neuromancer, em 1984. E, depois de filmes como Matrix ter explorado esse universo, Deus Ex: Human Evolution despeja de forma nua e crua uma narrativa densa sobre o mundo controlado por empresas e as diferenças sociais de um futuro que preza pela tecnologia mais do que qualquer outra coisa.
Há um tempo não víamos um jogo com essa temática que despertasse o interesse de qualquer entusiasta da cultura geek. Desde RPG’s de mesa como “Shadowrun” até a aclamada série “Fallout”, o tema retrata uma sociedade futurista socialmente falida, mas muito lucrativa. Uma distopia do mundo como conhecemos. Mas que, no final das contas, é uma ideia não muito distante e plausível de acontecer.
Em “Deus Ex: Human Evolution” estamos na pele de Adam Jensen, um especialista em segurança contratado pela Sarif Industries – empresa que cria implantes cibernéticos como braços, pernas e órgãos para tornar a vida das pessoas mais agradável. O problema é que esse tipo de implante torna a sociedade ainda mais dividida. Ou seja, não bastasse o preconceito contra as minorias, há também distúrbios sociais com as pessoas que sofreram algum tipo de implante.
Essas pessoas, em sua maioria, também têm de se manter sob efeito de drogas para inibir a rejeição do corpo em relação aos implantes. Isso gera opiniões contrárias por todos os cantos, e até a criação de grupos de humanos puros que lutam com unhas e dentes contra esse tipo de evolução. Jensen, nosso protagonista, se vê em uma situação difícil depois que um incidente ocorrido na Sarif Industries: quando terroristas cibernéticos invadem o local, roubam uma nova tecnologia em desenvolvimento pela empresa e causam um estrago enorme. O resultado foi que Jensen acaba sendo “aumentado” sem seu consentimento.
Uma ação desesperada necessária para mantê-lo vivo. A partir daí, o jogador tem à sua frente um vasto mundo virtual a ser explorado, assim como um rumo moral para escolher. Cada resposta ou pergunta durante as conversas podem mudar o rumo dos fatores que acontecem no game, e a ação pode ser definida de acordo com o gosto do jogador.
Se você gosta de jogos de espionagem, nada impede de usar e abusar de dutos de ar, passos silenciosos e, como não poderia faltar, hackear computadores para chegar a lugares de difícil acesso sem ser detectado. Por outro lado, é possível ser uma espécie de fora da lei e bater de frente com todas as situações, como enfrentar a polícia e inimigos utilizando todo o seu arsenal. Jensen conta com diversos atributos e implantes biomecânicos que podem ser aprimorados de acordo com o seu modo de jogo.
O bacana disso é que tudo neste jogo flui muito bem. Desde as conversas com outros personagens, até os gráficos muito bem feitos, a jogabilidade que muda de perspectiva de uma hora para outra e, é claro, uma narrativa digna de um bom livro de ficção – já que um filme nem chegaria perto de conter tantos detalhes.
O principal ponto negativo vai para a trilha sonora, que não ganha muito destaque e muitas vezes até fica em um volume baixo. Nem dá para lembrar-se de um momento realmente marcante em relação ao som ou trilha sonora do game. E já que estamos falando de pequenas falhas, outra vai para o final do game, que parece terminar no estilo do seriado Lost. Ou seja, muito da história é apresentado durante toda a aventura, para depois as coisas irem se ligando (ou se despachando) de forma muito rápida nos momentos finais. Mas, assim como no seriado, a diversão não fica de lado. E o importante foi curtir todos os momentos ao lado de Jensen ao conhecer diversos tipos de personagens, momentos de ação, investigação e de dúvida.
“Deus Ex: Human Evolution” nos faz pensar em uma sociedade futurista. Será que um dia viveremos em um mundo tão caótico e desonesto? Haverá a possibilidade de implantes cibernéticos para sobrevivermos? E como ficam os preconceitos, a qualidade de vida e a questão social? Fator que já haviam sido colocado em pautas com a chegada do primeiro game da série, em 2000.
E a Eidos tinha um grande fardo nas mãos. O de não decepcionar os fãs do Deus Ex original. Jogo que ganhou diversos prêmios, foi cotado como melhor do ano e inclusive o melhor de todos os tempos por uma lista da PC Gamer.
Felizmente, depois de quatro anos de produção, “Human Evolution” foi revelado como um dos melhores jogos deste ano. Pronto para agradar os fãs da série, assim como adquirir milhares de novos adoradores. Aqui, você se depara com elementos de RPG, tiro em primeira pessoa, espionagem e ainda tem a possibilidade de explorar um mundo dominado por grandes corporações em uma perspectiva cyberpunk. “Deus Ex: Human Evolution” acertou em cheio.
Nota: 9,0
Plataformas: _Xbox 360_ | _PS3_ | _PC_